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Texto: Adriana Santos
Imagens:André Durão/GloboEsporte.com
O clássico que decide a Taça Guanabara vai ser de Raça, Paz e Poesia.
Os livros da Estante que Nelson Rodrigues assina serão consultados e lidos com a mesma intensidade da disputa de bola ou marcação.
E aí entra a função do torcedor: torcer ,simplesmente mostrar as características de quem torce apaixonadamente por um clube.
Isso exclui a violência mas não as brincadeiras com os amigos que vestem a camisa do adversário.
O Cronista das frases fortes disse que "o craque ou torcedor é um Bocage" ,para quem não se recorda das aulas de Literatura Portuguesa , quis dizer um irreverente .
Irreverência quase infantil que impede a violência cega de entrar ou ficar próxima aos estádios.
Chega!
O Futebol está pagando o pato e os torcedores se afastando do Tribunal com gramado que julga a beleza e o encanto do esporte em lances como o do gol de Diego em uma cobrança de pênalti contra o Vasco aos 41 minutos do primeiro tempo .
Ou quando Rezende chutou carimbando a trave tricolor desperdiçando a melhor chance do Madureira na outra semifinal, o empate insosso em 0 a 0 armou o reencontro das duas sílabas mais emblemáticas do Futebol brasileiro .
Fla x Flu ... passado e presente, querendo preservar o futuro.
Estádios vazios ou com pouco público são como folhas de papel em branco ,onde cabem delírios e criatividade do escritor, provocações com bom humor da torcida e o talento dos personagens em suas tramas com a bola.
6.979 presentes em Volta Redonda para Flamengo 1 x 0 Vasco e 2.399 testemunhas em Duque de Caxias para Fluminense 0 x 0 Madureira.
Em palavras os números se traduzem em um livro incompleto .
Uma grande festa pede um palco que tenha ligações históricas ,que se integre à importância de uma saudável rivalidade na decisão da Taça Guanabara.
Que contagie quem tiver em campo estabelecendo uma entrega que vai movendo corpos atrás de uma bola.
Então torcemos pela emoção sem máscara.
Pelo gol de cobertura.
Pelo drible no zagueiro.
Pelo beijo da bola na trave.
Pelas comemorações com dancinhas.
Pelos artilheiros inspirados que marcam um, dois ou três gols e ainda pedem música.
Pelas substituições que mudam o panorama de um jogo.
Que sejam bem-vindos os acasos de uma jogada errada com o chute certo.
A emoção convertida em drama deve ser a matéria-prima .
Um caderno repleto de anotações que fariam a festa de um certo dramaturgo que representa o Fla x Flu .
Nélson Rodrigues com certeza adoraria voltar e assistir um jogo com o estádio lotado e com rótulo de inesquecível e outros adjetivos que ele adorava .
É preciso voltar ao passado para acordar quem monta o presente .
Aqueles que perdem tempo brigando ou agendando torturas pelas redes sociais ,deveriam ler um livro ,plantar a árvore da tolerância e mostrar para os filhos de quem torce e estão aprendendo a torcer que jogar futebol apesar da seriedade e implicações mercadológicas é uma educativa brincadeira.
´Voltar no tempo é resgatar quem os autores desta trama das seis letras, é escalar duas vogais cada uma em um time e duas consoantes que se repetem e fortalecem uma devoção desde 1912.
"O clássico das Multidões" não pode ser abandonado por medo de um terror organizado e se tornar o "Clássico dos gatos pingados".
Finalizo abrindo aspas para Nélson Rodrigues :
"Com os torcedores de hoje e os fantasmas de velhíssimos triunfos ,ganharemos o mais dramático Fla -Flu de todos os tempos".
Que assim seja!
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